domingo, 31 de outubro de 2010

Três constatações de outono

O outono é sem dúvida a mais bonita das estações por aqui. É quando as árvores ficam mais coloridas, e o por-do-sol cria incríveis tons e reflexos. Já se passou o pico da estação, a maioria das folhas já caiu, mas ainda tem um pouco de cor.


O auge da estação é o Halloween, que aqui é coisa séria. Todo mundo decora as casas com caveiras e abóboras (e muitas outras coisas). Todo mundo compra fantasias novas. A festa, que era pra ser das crianças, virou também brincadeira de gente grande. Este ano o "trick or treat" vai ser sob bastante frio (~7 graus). É que, pra não estragar o figurino, ninguém usa casaco por cima da fantasia.


As folhas caem. Você varre. Elas caem de novo. Você varre de novo.
Nem sei de onde vem tanta folha. Olha só. Varri ontem...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Brasil que está dando certo

Não costumo reproduzir artigos no meu blog, mas este, publicado no Estadão de hoje, vale a pena. O autor é Rogério Werneck, economista, Doutor pela Universidade de Harvard, e professor do Depto de Economia da PUC-RJ.

Na esteira de uma campanha marcada pela mistificação e pelo escapismo, a candidata governista chega ao final da eleição presidencial em vantagem significativa nas pesquisas de intenção de voto. É o sucesso de um discurso enganoso que passa solenemente ao largo de questões fundamentais que o País terá de enfrentar nos próximos anos. O eleitor vem sendo conclamado a escolher entre "o Brasil que dava errado e o Brasil que está dando certo" e a eleger "a presidente que não vai deixar privatizar a Petrobrás nem o pré-sal".

"O Brasil que está dando certo" não sabe bem como é mesmo que vai continuar financiando a gigantesca farra fiscal instaurada no segundo mandato do presidente Lula. Ou pior, acha que sabe. Aposta em poder dar sobrevida ilimitada ao fabuloso esquema de expansão de crédito subsidiado bancado por emissão de dívida pública, montado no BNDES. Confia na elevação sem fim da carga tributária para fazer face à expansão descontrolada de gastos. E espera poder continuar recorrendo impunemente a artifícios contábeis de todo tipo para escamotear a gritante deterioração das contas públicas. Sempre tendo o cuidado, claro, de não informar o eleitorado de qualquer uma dessas apostas.

"O Brasil que está dando certo" tem taxa de juros absurdamente alta e taxa de câmbio em preocupante apreciação, mas já não tem plano de jogo coerente para lidar com tais problemas. É um país onde o ministro da Fazenda se vangloria de contar "com armas de grosso calibre" para combater a apreciação e brada aos quatro ventos que "essa história de que ajuste fiscal vai baixar os juros é um equívoco". E onde as pressões em favor da redução da taxa de juros vêm perdendo força. Parte do empresariado já não se preocupa com a taxa de juros e com a sobrecarga que a política fiscal expansionista impõe à política monetária. Prefere frequentar os guichês de favores do BNDES, sem se dar conta de que a expansão do crédito subsidiado bancado por emissão de dívida pública vem tornando cada vez mais remota a possibilidade de uma queda estrutural da taxa de juros.

"O Brasil que está dando certo" é um país onde o governo impõe uma carga tributária mais alta do que a de qualquer outra economia em desenvolvimento, mas gasta quase tudo em dispêndios correntes. Só consegue investir pouco mais de 1% do PIB. E, ainda assim, prefere, por razões ideológicas, concentrar seu parco orçamento de investimento em áreas nas quais o setor privado está interessado em investir. O País continua exibindo carências vergonhosas em saneamento básico, transporte de massa, saúde, segurança e educação. Mas é em setores como petróleo e energia elétrica que o governo quer investir. Basta comparar os quase R$ 300 bilhões de dinheiro público já destinados ao BNDES e à Petrobrás, desde 2008, com os totais de R$ 18 bilhões e R$ 34 bilhões que a candidata governista promete gastar nos próximos quatro anos em transporte público e saneamento básico.

"O Brasil que está dando certo" é, portanto, um país que aprendeu pouco nos últimos 40 anos. Ainda insiste em despejar recursos públicos em investimentos no setor produtivo. E, como no regime militar, está de novo pronto a perder a oportunidade de ampliar rapidamente o acesso da população a condições decentes de educação, saúde, segurança e infraestrutura urbana.

Há poucos dias houve quem afirmasse que a eleição de Dilma Rousseff era a garantia de que os recursos do pré-sal seriam destinados à educação. Ledo engano. O que a candidata governista tem em mente é a dilapidação de boa parte do excedente potencial do pré-sal num faustoso programa de subsídio à produção nacional de equipamentos para a indústria petrolífera. Se ela tiver o sucesso que espera nessa empreitada, vai sobrar bem menos do que se imagina para educação e outros destinos mais nobres. Numa triste reedição do nacional-desenvolvimentismo geiselista.

O Brasil vai custar a dar certo se, ao arrepio das lições da história, teimar em insistir no que deu errado, de fato, no seu conturbado passado.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cingapura surpreende pela modernidade

Cingapura é uma surpresa agradável. A colonização britânica tem influência decisiva no que é a cidade-país atualmente. A língua principal é o inglês, e não se passa aperto para ler mapas ou placas, ou para se comunicar, em lugar algum. O lugar parece ser o mais "certinho" que eu já visitei. Nada fora do lugar. Muito educação, muita seriedade e muito bom atendimento, em qualquer lugar.

A infraestrutura na cidade é de primeira. Pra se ter uma idéia, o aeroporto de Changi já foi eleito o melhor do mundo por revistas especializadas. Cingapura tem semelhanças importantes com Chicago: um rio que atravessa a cidade (e em cujas margens ficam os pontos mais valorizados), e uma arquitetura instigante.

A cidade não é gigante, mas tem prédios imponentes. O governo investiu no turismo e constuiu seus ícones turísticos: o Flyer, a maior "roda-gigante" do mundo (com vista muito bacana lá do topo), e o Marina Bay Sands, um sensacional complexo com hotel e casino às margens da linda baia que domina a cidade.

O que eles chamam de "downtown", é um imenso centro de compras localizado ao longo da Orchard Road. Lá tem de tudo: dos mais simples souvenirs, até eletrônicos, Prada e Louis Vuitton. Na média, eu diria que o comércio é bastante elegante. Me chamou atenção o grande número de ateliers de costura para homens. Aparentemente, neste que é o quarto maior centro financeiro do planeta, os executivos preferem mandar fazer seus ternos e camisas sob medida.

Cingapura tem muitos orientais. 42% da população é composta de imigrantes, mas a maioria é chinesa. Dá pra sentir bem isso andando às margens do Singapore River, onde existem restaurantes de todas as nacionalidades, num ambiente atraente e bastante turístico. Mas aí o domínio asiático é flagrante. A maioria é mesmo chinesa, japonesa e coreana.

Cingapura tem sua Chinatown e sua Little India, mas na verdade é um país de primeiro mundo. É conhecida como um dos "tigres asiáticos", mas se parece mais com uma metrópole americana do que qualquer outra coisa.

sábado, 23 de outubro de 2010

Obrigado por tudo, meu Rei!

Naquele outubro de 1974 eu tinha 12 anos e chorei muito ao ver Pelé ajoelhar-se no centro do campo e abrir os braços. Sua despedida já estava anunciada, e eu sabia que estava presenciando um fato histórico. Nunca mais haveria um jogador como aquele na face da Terra.

Fui um garoto mimado. Na minha primeira Copa do Mundo, em 1970, eu torci para a maior seleção brasileira de todos os tempos. Um time mágico, que ganhou de todos os adversários, e na maioria dos jogos fez 3 ou 4 gols. Não tinha pobreza! Foi goleada da estréia até a final.

Aquela Copa criou minha paixão pelo futebol. A paixão pelo Santos veio depois, quando passei a frequentar os estádios, ainda garotinho. Fui ao campo ver Pelé várias vezes, e invariavelmente, eu voltava feliz ou hipnotizado.

Lembro do "gol de placa" contra a Portuguesa, no Pacaembu, que eu demorei vários anos pra entender. Cruzamento na área, o "homem" mata a bola no peito, perto da linha da grande área, e emenda um "sem-pulo" de esquerda, no ângulo. Não entendia quando meu pai dizia para sairmos do estádio e pagarmos ingresso novamente. Tampouco entendia o grau de dificuldade do lance. A matada antológica. O chute preciso. De esquerda.

Pelé ganhou tudo. Foram 45 títulos só com o Santos.  E mais 3 Copas.
Pelé fez o nosso país conhecido, e reconhecido.
Obrigado, Rei!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Roma e seus 2000 anos de história

As aulas de História voltam à nossa cabeça, e cai a ficha de tudo que já se passou por ali. Roma foi o mais importante império da Antiguidade, teve o mais bem sucedido exércíto, e ganhou inúmeras batalhas e guerras.

Mas um dia Roma caiu. Nessa queda, a cidade foi destruida, mas nunca perdeu sua majestade. Roma preservou as ruínas da antiga cidade, e seu maior símbolo, o Coliseu, é imponente até hoje. De lá pra cá, surgiu uma nova cidade, com inúmeras praças, fontes e monumentos.

Mas apesar da glória que parece jamais acabar, eu acho que sua infraestrutura turística não está à altura de suas atrações históricas. O turismo me parece um negócio mal explorado na cidade, deixando de aproveitar a grandiosidade que a cidade ostenta em cada quarteirão, com relíquias e tesouros arqueológicos por toda parte.

Na minha opinião, o turista não é muito bem tratado em Roma. Não pelas pessoas, que são muito amáveis. A cidade é mal sinalizada, e às vezes faltam serviços turísticos básicos. Pra se ter uma idéia, não se vende água no Coliseu ou no Forum Romano, atrações que podem entreter turistas por horas. Mas horas debaixo de sol, sem água, não deixa nenhum turista feliz.

No fim, deixei a cidade hipnotizado por sua história e grandiosidade, mas frustrado pela negligência de suas autoridades turísticas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Regular ou brilhante? O que vale mais?

Outro dia li um famoso comentarista dizer que o campeão do Brasileirão será o time que somar mais pontos contra os times mais fracos (aqueles na zona do rebaixamento). Isso é uma verdade quase incontestável, consequência de uma liga equilibrada, com muitos times em condições de lutar pelo título.

Eu mesmo sou fã dos pontos corridos! Mas não gosto de pensar que os grandes confrontos diretos
perdem importância. Afinal, são eles que enchem os estádios, que alimentam as rivalidades, e que testam os grandes craques.

Por mais que os realmente grandes estejam jogando na Europa, eu gostaria de ver os clássicos mais valorizados, pra talvez ver quem joga bem sob pressão, e quem só joga bem contra o Taquaritinga FC.

Não estou pregando a volta dos play-offs. Mas acho que os confrontos diretos poderiam muito bem ser o primeiro dos critérios de desempate. Um tempero especial para a fórmula dos pontos corridos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dinheiro compra felicidade?

Na contra-mão do que a sociedade consumista quer nos convencer, eu sempre achei que dinheiro não compra, nem manda buscar felicidade. Bem, com certas ressalvas: a felicidade exige certas condições básicas para ser alcançada, mas não há a menor necessidade de se alcançar status de milionário para tê-la. Sempre achei que um pouco a mais ou a menos de dinheiro não faz tanta diferença, desde que se tenha o suficiente para o básico.

Isso parece agora estar comprovado cientificamente. Matéria publicada na Folha no dia 7/setembro atesta que, segundo ampla pesquisa, o percentual de pessoas felizes cresce proporcionalmente à sua renda até o patamar de R$ 11,3 mil mensais (foto abaixo). Acima desse valor, o aumento de renda não parece produzir qualquer alteracão na sensação de felicidade dos entrevistados.

Isso significa que andar de önibus é diferente de andar de Corolla, por exemplo. Mas certamente trocar o Corolla por uma Range Rover blindada não acrescenta nada em termos de felicidade. Eu diria até que o gráfico mostra um pequeno aumento no estresse para os muito endinheirados.

Atenção! Não estou pregando o conformismo ou a mediocridade. Apenas tentando tirar a pressão do nosso inconsciente coletivo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Florença e sua fortuna renascentista

O caminho da Cote d'Azur em direção a Pisa e Florença é feito pela A8, que vai margeando o Mediterrâneo até Gênova. São duas horas alternando túneis e vales, onde rapidamente se percebe a diferença da França para a Itália. Esta parece ser habitada por italianos mesmo, enquanto a primeira vive cheia de milionários dos quatro cantos do planeta.

O caminho pela costa é bonito, mas não deslumbrante. Vinhedos, pequenos sítios, e algumas cidades portuárias, com algumas indústrias. Pisa foi nossa primeira parada, já longe da costa, e na famosa Toscana. Achei a torre impressionante. Ela é muito inclinada! Não sei como não tomba! Mas é só o que a cidade tem a oferecer.

Mais alguns minutos e chega-se aonde interessa: Florença. A cidade vive, até hoje, das glórias do Renascimento, há 5 séculos atrás. É incrível o que se tem de arte renascentista por lá. Acho que iso vai sustentar a cidade pra sempre! A cidade é pitoresca, com um centrinho medieval cheio de ruas estreitas por onde andam pedestres, carros, charretes, etc. E também cheio de lojinhas e restaurantes que dão pra distrair qualquer bom turista.

Confesso que não tive tempo de explorar muito a Toscana. Não fizemos passeios pelo interior. Nossa passagem foi rápida, e se limitou à cidade mesmo. Deu pra perceber que o segredo de Florença está dentro das galerias, e não nas fachadas. Se você curte Michelangelo e Boticceli, este é o lugar certo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Voto de protesto vai nos dar 4 anos de palhaçada

Mais de 1,3 milhão de pessoas votaram no palhaço Tiririca (não se trata de um adjetivo, e sim da profissão dele). Claro que a única razão plausível é a de protestar conta um Congresso ridículo, podre e inoperante. "Pior do que está não fica" dizia o slogan. Algo parecido aconteceu em 1959, quando o rinoceronte cacareco foi o mais votado na eleição para vereador de São Paulo. Naquele episódio, passou-se um recado a nossos políticos.

Só que Tiririca não é cacareco!
Pra começar, Tiririca vai carregar com ele uns 4 ou 5 candidatos que não sabemos quem é. Segundo a Veja, um deles poderá ser o Valdemar Costa Neto, um dos protagonistas do mensalão. Depois, ele vai assumir o cargo. E vai fazer da Câmara dos Deputados um circo quando por lá aparecer.

Eleger gente assim é um erro grave. Pode até ser engraçado na hora, mas custa 4 anos de atraso para uma das mais importantes instituições de uma democracia. E claro que o Tiririca é um exemplo apenas. Existem outros. Em cada estado foi escolhido um "palhaço" diferente.

Por isso discordo quando dizem que nossa democracia está madura. Discordo quando enaltecem o espetáculo da eleição brasileira. Falta muita consciência para nosso eleitorado. Precisamos começar a entender a importância do ato de votar. Por enquanto, nossa democracia está mais pra palhaçada do que outra coisa.