domingo, 22 de novembro de 2015

Hora de fazer a lição de casa

Passou praticamente despercebido um estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos, divulgado recentemente, alertando para o risco de redução de nossa capacidade de geração hidrelétrica cair até 20% em decorrência das mudanças climáticas.

Sabendo que uma parcela significativa da nossa geração de energia vem da água, a constatação não deve surpreender ninguém. O que os cientistas constataram nos supercomputadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é algo que a maioria dos brasileiros poderiam intuir com naturalidade. A grande questão agora passa a ser: como vamos reagir a essa nova manchete?

Antes de sair propondo soluções, é importante destacar que a nossa produção agrícola será afetada. Segundo o estudo, haverá uma redução na área cultivável de até 39,3%, no pior cenário. A soja seria a cultura mais afetada, tendo uma perda de até 67% em sua área plantada.

A produção de carne também será impactada, pois, com menos chuvas, naturalmente teremos pastos mais fracos. Somos um país historicamente agrícola e estes dois produtos representam bilhões de dólares na nossa pauta de exportações e uma infinidade de empregos diretos e indiretos. Além de desequilibrar nossas finanças, isso causaria um impacto direto na alimentação e no bolso da própria população brasileira.

Por isso, a resposta trivial que vem sendo dada ao problema das mudanças climáticas é claramente insuficiente. Nossos problemas não serão resolvidos apenas com as energias renováveis. Claro que é importante gerarmos energia mais limpa. Claro que é importante diminuirmos nosso consumo de derivados de petróleo. Mas falta um componente tão ou mais importante: temos que consumir menos energia!

Se nosso consumo de energia continuar subindo como nos últimos anos, a geração a partir de usinas solares ou eólicas não será suficiente, mesmo se continuar crescendo. Segundo o estudo do governo, e já considerando todos os cenários, haverá uma perda de 4% a 20% na capacidade de geração hidráulica. Não queremos que essa perda seja compensada com geração térmica e não podemos mais pagar por isso!

Temos que desenvolver uma economia de baixo carbono e, ao mesmo tempo, tornar essa atividade econômica “mais limpa” e mais eficiente. A redução de 10% do consumo por conta da eficiência energética em 2030, que acaba de ser incluída no compromisso brasileiro para a COP-21, significará economia de R$ 15 bilhões para o setor elétrico brasileiro. Se reduzirmos 20% o consumo, teremos economia de R$ 30 bilhões por ano, o que nos permitiria construir várias grandes hidrelétricas, preferencialmente com grandes reservatórios. Esse dinheiro todo poderia nos ajudar a acelerar a transição para energias renováveis e também um programa abrangente de biocombustíveis.

Em meio a toda essa crise de água em São Paulo, a população já clama por medidas de eficientização do uso. Por que na eletricidade não começamos já a fazer isso? Será que sempre temos que esperar a crise chegar, para começar a fazer a lição de casa?

Publicado no Canal Energia em 20/nov/2015.

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